Euripedes B. Carvalho
Espíritos infratores, lutamos, hoje, pela nossa redenção. Como “filhos pródigos”, conscientes dos erros cometidos, queremos retomar o caminho de volta à casa do Pai. Esse o nosso mais importante objetivo. Para isso, já conhecemos o roteiro, o GPS infalível, implícito nessas sábias palavras de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vai ao Pai senão por mim.”
O Caminho são seus exemplos, suas atitudes, onde o amor enobrece os seus menores gestos. A Verdade consiste na doutrina que nos legou, contida no maior de todos os mandamentos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. E a Vida significa ter sido Ele o paradigma na prática de todos os seus ensinamentos.
Embora sua doutrina se apresente com muita clareza, não permitindo subterfúgios, ainda assim temos grande dificuldade em assimilá-la em sua essência. Cegos e surdos à sua verdade, continuamos afeitos a práticas exteriores que, como fariseus modernos, “temos a prece nos lábios e não no coração”.
Velhos consumidores de indulgências, continuamos confundindo e misturando práticas religiosas com práticas comerciais. Estamos sempre buscando terceirizar nossos compromissos para com as obrigações espirituais. Se possível, transferindo para outro a cruz da nossa redenção, aliviando os nossos e calejando os ombros alheios. Pagamos o dízimo, participamos de promoções, e nos julgamos habilitados a desfrutar das benesses celestiais. Assíduos participantes de seminários, palestras, reuniões, encerramos o expediente religioso com o indispensável passe e a água fluidificada. Dever cumprido.
Desfilando formalidades, podemos impressionar nossos confrades, mas não nos safaremos dos rigores da Lei. “São cristãos esses que honram o Senhor através de atos exteriores de devoção, e ao mesmo tempo sacrificam no altar do egoísmo, do orgulho, da cupidez e de todas as paixões? São seus discípulos esses que passam os dias a rezar, e não se tornam melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com os seus semelhantes?” (ESE: XVIII, item 9).
Urge atentemos para o verdadeiro significado das palavras de Jesus, certos de que pouco valerá a velha e rançosa louvação do “Senhor, Senhor”, se não cumprimos com os seus preceitos. A mochila para a retomada da estrada da volta deve estar cheia de bens inalienáveis que são as nossas boas ações. O fardo é leve quando o conteúdo é suave. “A única via que está aberta, para alcançardes a graça em sua presença, é a da prática sincera da lei do amor e da caridade”. (Idem, idem).
A Doutrina Cristã, retomada em sua primitiva pureza pela Codificação, consiste em verdades eternas onde, só por elas, com elas e através delas é que, à semelhança do filho pródigo, faremos com segurança o difícil e espinhoso retorno à casa do Pai. Da mesma forma, todo o conhecimento humano, as ciências políticas e sociais e, principalmente as religiões que as tiverem como sustentáculo, se assemelharão à casa construída sobre a rocha.
Nela a humanidade verá fluir a verdadeira felicidade. “Mas aqueles que se apoiarem na sua violação, serão como a casa construída sobre a areia: o vento das revoluções e o rio do progresso as levarão de roldão”. (Ibidem, ibidem).