Desgosto da vida. Suicídio

João Batista Vaz

 

Iniciamos o assunto, referentemente a declaração de perda do sentido da vida, lembrando o velho adágio “cabeça desocupada, laboratório do diabo”. E como o diabo, com certeza, não deseja o bem a ninguém, eis aí o grande perigo de o desocupado ter sua mente motivada por impulsos funestos. Obviamente que devemos, aqui, entender “diabos” os espíritos malfeitores. Contudo, há de se considerar que nem todos os suicidas caracterizam-se por desocupados. Quantos não assumem o gesto supremo em plena atividade produtiva?

Convém que busquemos algumas razões pouco consideradas. Se, de acordo com a lei de sintonia mental, estamos sempre em parceria com alguém invisível, cujo caráter corresponde com o nosso, isto é, com o que pensamos e fazemos, imaginemos quais serão os nossos parceiros espirituais, se nos comprometemos com o ócio ou coisas ruins!

Além disso, as misérias da vida, às quais estamos sujeitos, sob queixas e reclamações, são nada mais que efeitos de causas anteriores, objeto da nossa encomenda consciente. Temos repetido: nós é que encomendamos o nosso futuro. Semeamos no passado, colhemos agora, semeamos agora, colheremos depois. Se desejemos felicidade, que exercitemos o trabalho honesto e o serviço do bem, lembrando Pedro: “O amor cobre milhões dos pecados.”

Façamos uma incursão pelas questões 943 e seguintes, de O Livro dos Espíritos, e saberemos que a quase totalidade dos casos de desgosto leva o indivíduo ao suicídio, e é gerada pela falta de fé no futuro e de objetivos na vida, e parcela considerável das pessoas tem motivo no esgotamento do ao que aspirar no seu mundo de materialidade, tão limitado!

Respondem os Espíritos que se trata de “efeito da ociosidade, da falta de fé e, frequentemente, da saciedade. Para aquele que exercita suas faculdades com um objetivo útil e segundo suas aptidões naturais, o trabalho não tem nada de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quando age tendo em vista uma felicidade mais sólida e mais durável, que o espera.”

Pôr fim à vida é crime contra as leis divinas. À pergunta se o homem tem o direito de dispor da própria vida (q. 944), os Instrutores espirituais respondem: “Não. Só Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei.”.  É quando Kardec vê suscitada a indagação “o suicídio não é sempre voluntário?” E os Mentores da Codificação o lembram (q. 944-a) de que “o louco não sabe o que faz.”

A questão objeto destas linhas é preocupante, como o é tudo o demais que se relaciona à disposição ao suicídio ou à sua consumação, que, no mundo, segundo o site SuperInteressante, é de 800 mil pessoas todos os anos, por motivos diversos. No Brasil, para cada 100 mil pessoas, seis se matam em idêntico período.

Como medida otimista, segundo se informa, o governo ampliará, no território nacional, a instalação dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), forma concebida como a mais indicada para a prevenção do suicídio.

Mas, é preciso que a sociedade considere os motivos que se acham escondidos no invisível aos nossos parcos sentidos. Como os motivos mais comuns residem na ânsia de escapar às misérias e às decepções deste mundo, a questão 946 da obra citada esclarece: “Pobres Espíritos que não tem a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda àqueles que sofrem, e não aqueles que não têm nem força nem coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes aqueles que as suportam sem murmurar, porque serão recompensados! Infelizes, ao contrário, os que esperam sua salvação do que, em sua impiedade, chamam de acaso ou fortuna! O acaso ou a fortuna, para me servir de sua linguagem, podem, com efeito, lhes favorecer um instante, mas é para os fazer sentir mais tarde e mais cruelmente o vazio dessas palavras.”

Adote os recursos da medicina, mas não deixe, porém, de buscar sua paz na realidade do espírito. Fale com um atendente fraterno, numa casa espírita, que, por certo lhe recomendará o conhecimento das leis que nos regem a vida da origem ao infinito, regendo-nos as intenções.

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