Dr.Rodolfo Moraes Silva
Numa análise inicial, ao sermos questionados sobre “o que melhor caracteriza nossa imperfeição espiritual”, podemos naturalmente responder que são nossos defeitos e nossos vícios.
De fato, estes são grandes entraves que nos seguram à retaguarda.
No entanto, no item 895 de O livro dos Espíritos, Alan Kardec fez uma pergunta interessante: “Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição? ”. Ou seja, além dos vícios e defeitos, há algo que sinaliza em nós de modo ainda mais exato nossa imperfeição espiritual! O que seria?
A resposta é direta e não deixa dúvidas: o interesse pessoal.
Como traz o próprio texto da resposta, observamos que diversas pessoas podem até mesmo adquirir notáveis avanços espirituais, acumulando qualidades morais a lhes transparecer o modo de ser e agir. No entanto, essas mesmas pessoas, ao serem tocadas no fio do interesse pessoal, voltam atrás revoltadas e revelam, de fato, suas realidades espirituais.
As grandes provas da vida fazem isso com a gente. Invariavelmente elas nos testam as fibras do interesse pessoal, de nosso orgulho e egoísmo, para avaliarmos o quão “vazios de nós mesmos” estamos e o quanto estamos realmente alinhados com a vontade divina, de forma humilde e com uma entrega efetiva.
Vejamos, a título de exemplo, um pai de família que desencarne e passe por um processo de recuperação espiritual, mais ou menos duradouro, reequilibrando-se moralmente, adquirindo serenidade e disposto ao recomeço. Eis que ele é levado ao encontro da família terrena e se depara com a situação de uma outra pessoa ter “ocupado seu lugar” de cônjuge e pai. Imediatamente, muitos, nessa situação, entregam-se à revolta e inclusive partem para a agressão, demonstrando, assim, que seu interesse pessoal permanece o mesmo, e que quando ferido, faz transparecer sua verdadeira essência.
Em situações corriqueiras, do dia a dia, muitos de nós dizemos: “eu sou uma pessoa tranquila, calma e até boa, desde que ninguém pise no meu calo, por que aí… sai de baixo!”. Ora, essa afirmação, muito comum por sinal, é a própria confissão de que o interesse pessoal prevalece em todos os ângulos de nossas vidas.
Quando tocados no ponto de nossos interesses é que realmente demonstramos ser quem somos de fato. A pessoa desapegada, que realmente esvaziou-se de si mesma e que traz o Cristo no coração, reagirá de forma natural, sem sofrimento, pensando no próximo antes de si e se sentindo realizada em se sacrificar pela felicidade alheia. A pessoa apegada, cheia de si, demonstrará, através da revolta, que não está disposta a nenhum sacrifício real em benefício do semelhante e que, de fato, apesar das aparências, pensa apenas em si mesma. Eis o verdadeiro sinal de nossa imperfeição!
Vícios e defeitos podem e devem ser trabalhados. Mas o interesse pessoal deve ser extinto caso desejemos de fato avançarmos rumo à nossa gloriosa evolução espiritual.
O verdadeiro desinteresse pessoal, conforme diz os espíritos, é algo tão raro que, quando se observa próximo de nós, na manifestação de espíritos evoluídos que vem nos dar o exemplo, se torna algo quase inacreditável, um verdadeiro fenômeno para além de nossa compreensão.
Quando escutamos, por exemplo, que o Dr. Bezerra de Menezes, diante de uma senhora carente e observando que nada levava nos bolsos para lhe socorrer, saca do próprio anel de formatura e lhe oferece, em doação espontânea, ficamos boquiabertos e pensamos “eu não conseguiria fazer isso”. Imaginem a intensidade de “desinteresse pessoal” de que esse espírito é portador! Isso lhe caracteriza a evolução.
Vamos parar para observar e concluiremos que o interesse pessoal é o responsável por nosso sofrimento atual em diversos campos de nossas vidas, pois nos leva a escolhas e caminhos divergentes daqueles apontados por Jesus, testemunhados no seu evangelho. Se hoje sofremos neste ou naquele setor da vida, é porque, em algum momento do passado, escolhemos por caminhos errados, baseados única e exclusivamente na defesa de nosso interesse pessoal.
Tal constatação nos aponta o caminho a ser seguido, caso queiramos novas e melhores colheitas no futuro próximo ou no distante.