O infeliz diante do feliz

João Batista Vaz 

 

O Espírito, uma vez livre do corpo carnal, tem aumentadas as suas percepções e lembranças, tanto para as ocorrências boas como para as ruins. No mundo espiritual – já o dissemos –, remoemos os erros cometidos durante as experiências físicas, pressionados pela consciência, agora, cobradora de reparação dos danos de que fomos autores.

Não bastasse o grande desconforto moral ante o peso de recordações das azeeades que nos macularam a vida, temos aumentado o sofrimento, porque, marcados pela infelicidade, somos levados a encarar Espíritos felizes e realizados.

A questão 975 de O Livro dos Espíritos trata da questão da apreciação moral de Espíritos felizes por parte de Espíritos infelizes que, agora, sofrem diante daqueles, muito embora os reconheçam merecedores da paz que os anima, sabendo que eles próprios só o merecerão, se esforços redentores vierem a envidar em nova experiência corretiva.

Vê-se, portanto, que a vivência espiritual é oportunidade para reflexões e aprendizado circunstancial e teórico. É quando os infelizes compreendem, perfeitamente, a felicidade dos justos, o que lhes incomoda a consciência, então, carregada de preocupações com a inevitável correção de conduta, objeto de planejamento de uma oportuna e redentora volta ao mundo das formas.

À indagação se os Espíritos inferiores compreendem a felicidade dos justos respondem os Instrutores da Codificação: “Sim, e é isso que faz seu suplício, porque compreendem que estão privados dela por sua faltas. É por isso que o Espírito, liberto da matéria, aspira depois a uma nova vida corporal, porque cada existência pode abreviar a duração desse suplício, se ela é bem empregada.

“Ele faz, então, a escolha das provas pelas quais poderá expiar suas faltas, porque, sabei-o bem, o Espírito sofre por todo o mal que faz, ou do qual foi a causa voluntária, por todo o bem que poderia fazer e que não fez, e por todo o mal que resulta do bem que ele não fez.

“O Espírito errante não tem mais véu, está como saído do nevoeiro e vê o que o afasta da felicidade. Então, sofre mais, porque compreende quando é culpado. Para ele não há mais ilusão: vê a realidade das coisas.”

A Lei divina, sábia e justa, rege as experiências conscientes da sociedade universal inteligente, de forma a se encadearem no regime de consequências esperadas, posto que somos racionais, cabendo-nos o exercício da liberdade responsável de escolha.

É bom lembramos que todas as demais criaturas do Universo sem-fim são igualmente divinas e também se movem no sentido evolutivo, mas, ainda rumam ao primeiro passo na conscientização de si mesmas.

Como já alcançamos a plenitude da razão, então livres para agir, mas responsáveis pelo que fazemos, cumpre-nos o exercício da harmonização consciente com os supremos desígnios, afastando os riscos de tristezas e angústias, quando nos transferirmos para a dimensão do espírito.

Referentemente à questão retro citada, o insigne Codificador expende o seguinte comentário: “O Espírito, no estado errante, abraça, de um lado, todas as suas existências passadas, de outro, vê o futuro prometido e compreende o que lhe falta para atingi-lo. Tal como um viajor que chegou ao alto de uma montanha, vê o caminho percorrido e o que lhe resta a percorrer para chegar ao seu objetivo.”

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