Ricardo Di Bernardi
Médico, escritor e palestrante espírita
rhdb11@gmail.com
Na conceituação espírita, alma e Espírito são sinônimos. No entanto, costuma-se utilizar o termo alma para designar o Espírito quando está vivendo a vida física. Assim, na linguagem espiritista, toda alma é um espírito encarnado. Almas afins são pessoas que costumam irradiar pensamentos ou sentimentos de natureza semelhante. Nós não possuímos uma alma, nós somos uma alma. Aliás, o que possuímos, transitoriamente, é um corpo que se desvanece com nossa morte biológica. A alma ou o Espírito já preexistia e continuará existindo, renascendo para evoluir.
E almas gêmeas, elas existem? Depende do conceito. Como metades eternas ansiosas por se encontrarem não existem. Como Espíritos criados aos pares, também não existem. No entanto, como seres que possuem uma sintonia profunda de energias, como seres que se apoiam, compreendem e nutrem verdadeiro amor, poderíamos dizer que é uma realidade. Ressalve-se que o termo deve ser usado mais como figura de linguagem, evitando-se transmitir uma ideia equivocada.
Em O Consolador, psicografia de Francisco Cândido Xavier, o Espírito Emmanuel defende a ideia das almas gêmeas, porém não se referindo a metades eternas que se buscam, mas a Espíritos que se ligam por laços de legítima afetividade, ao longo dos milênios, no desdobramento de experiências evolutivas.
Acredito que a Sabedoria Universal favorece esse tipo de ligação, a fim de que ambos se auxiliem e se amparem mutuamente. Há que se considerar que Espíritos ligados por laços tão fortes, como “almas gêmeas”, não caminhem sempre juntos nas sucessivas reencarnações, pois a caminhada evolutiva do Espírito dependerá, essencialmente, do esforço de cada um. Uns seguirão mais velozes, outros vão mais lentamente.
A planificação espiritual restabelecerá essas ligações profundas entre duas almas, favorecendo a retardatária com o amparo da que seguia à sua frente. Vemos um exemplo típico a respeito do assunto no livro Renúncia, psicografia de Francisco Cândido Xavier, que nos fala de Alcione, uma entidade angelical que renuncia a um mundo feliz para ajudar sua “alma gêmea”, um companheiro retardatário, ainda comprometido com os erros humanos.
Pode ocorrer, também, que esses pares afins, que Emmanuel denominada de “almas gêmeas”, reencarnem como membros da mesma família, em função de experiências evolutivas solicitadas ou compulsórias. Temos aí a origem de ligações muito fortes entre dois membros de uma família, uma afinidade intensa, com afetividade e amor sublime que transcende a mera ligação consanguínea.
‘Almas gêmeas’ não se separam definitivamente, mas o fazem transitoriamente. Como são Espíritos que a sabedoria divina uniu por fortes elos, em favor de sua evolução, a separação definitiva nunca acontecerá, mas ao longo da jornada certamente haverá separações transitórias, como, por exemplo, a morte de um deles, quando encarnados, ou pode acontecer de um reencarnar e o outro permanecer no mundo extrafísico. O livro “Evolução em dois Mundos” de André Luiz, traz um interessante capítulo denominado “Separação de cônjuges espirituais”, evidenciando a intensidade de vínculos entre duas almas (desencarnadas).
Como, às vezes, são Espíritos em níveis diferentes de evolução, pode ocorrer que, em virtude de erros na caminhada, um Espírito perca o contato com a sua “alma gêmea” que se acelerou muito na evolução, mas, trata-se de uma separação transitória. Alguns relatos de André Luiz e Emmanuel, pela mediunidade de Chico Xavier, nos informam de que isso pode ocorrer, não há perda definitiva de contato, mas, uma impossibilidade temporária de união, até mesmo como estímulo para que o retardatário apresse o passo, visando o reencontro, projeto que é o desejo de ambos.
Outra situação que existe na vida terrestre: ‘almas gêmeas’ ao se reencontrarem perceberem que seu companheiro/a já está comprometido/a com outro compromisso afetivo, inclusive com família já constituída. Tal situação decorre de necessidades evolutivas, em virtude de erros no passado e como oportunidade para o exercício de renúncia e aprendizado. Se mantiverem fidelidade aos seus compromissos, estarão crescendo espiritualmente e habilitando-se à realização de seus anseios de união, mais tarde, quando retornarem à Espiritualidade. Ao contrário, se decidirem deixar a família humana para estarem juntos, fatalmente terão problemas pela frente, já que ninguém pode pretender construir a própria felicidade sobre a infelicidade alheia, no caso dos familiares abandonados. Além disso, é comum as pessoas imaginarem encontrar ‘almas-gêmeas’ por equívocos de avaliação ou precipitação.
Não é prudente a afirmação de uniões eternas entre almas gêmeas, pois tal não ocorre como regra geral, porque a evolução de dois Espíritos costuma ser diferente. A velocidade do aprendizado e do desenvolvimento das qualidades éticas é muito específica, o que pode determinar afastamentos temporários por longo tempo.
Espíritos puros e perfeitos mantêm a ligação com suas almas gêmeas nos altos planos do infinito, mas, os que lá vivem não mais se prendem a alguém, no sentido de almas gêmeas, eles se ligam a toda a criação, vivendo a experiência do amor universal. O seu lar é o Universo e, sua família, todos os seres da natureza. Convenhamos, isto para nós, está muito distante e ainda é uma abstração!
Enquanto não chegamos aos píncaros evolutivos, amemos e trabalhemos…