Orgulho e pobreza de espírito

Euripedes B. Carvalho

 

O reinado estabelecido na Terra ainda é o dos homens. No comando, os pseudo-sábios e os orgulhosos. A elite culta e “inteligente” faz elevada opinião de si mesma e de sua suposta superioridade.

As coisas divinas são indignas de sua atenção e só existem para os tolos e os simplórios.

Está sempre com os olhos voltados para o próprio umbigo. Cria à sua volta uma aura de importância e supremacia, onde não há espaço para a crença num ser superior a ela. Não dispõe de um único pensamento para Deus.

Para ela e seus problemas, ela mesma se basta. Não registra sua agenda nenhum compromisso com a religião.

Ocupa seu tempo com o lucro imediato e os meios, lícitos ou não, que lhe aumentarão o poder. Se se digna a aceitar a existência de Deus, julga dispensável sua intervenção, convencida de que é autossuficiente para administrar seus problemas. Ignorando valores como eternidade e infinito, não percebe que sua inteligência está muito aquém das fronteiras ilimitadas do Universo, julgando que tudo pode e tudo sabe; sua visão se restringe aos estreitos e superficiais conhecimentos deste mundo.

Não crê e não admite o que transcende a matéria. A felicidade, se é que se pode ser feliz, resume-se na transitoriedade da riqueza que lhe abre todas as portas, e no irresistível fascínio que o poder lhe faculta. Tudo aquilo que ultrapassa os horizontes do mundo material, merece-lhe o escárnio e o desdém. Religião? Amar o próximo? Balelas, fantasias para entreter os pobres de espírito.

Esquece, lamentavelmente, que é feita da mesma matéria de seus semelhantes, sujeita às mesmas leis que a regem. Despidos, pobres e ricos, simples e orgulhosos, todos se igualam e o que resta é a vestimenta carnal, composta dos mesmos elementos para todos. O poder e a riqueza, avidamente conquistados, não lhe servirão de escudo ante o inevitável e intransferível encontro com a enigmática transição, que seu mundo ainda chama de morte.

Retornará, compulsoriamente, vencida em sua rebeldia, ao seu mundo de origem, motivo de seu descaso. Nessa hora, o grave erro cometido numa existência de enganos, fruto do orgulho, do falso saber e da arrogância com que tratou as coisas de Deus, a colocará, à escâncara da lei. Nada lhe restará no Reino dos Céus, reservado aos simples e humildes.

Paralelamente, porém, sob o comando do divino Timoneiro, o Reino de Deus, silenciosamente, medra e viceja no coração dos simples e humildes, que são aqueles que se deixam notar pela candura e a notável simplicidade das crianças. “O ignorante que possui essas qualidades será preferido ao sábio que acreditar mais em si mesmo do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Ele coloca a humildade entre as virtudes que nos aproximam de Deus, e o orgulho entre os vícios que Dele nos afastam. A humildade é uma atitude de submissão a Deus, enquanto o orgulho é a revolta contra Ele” (A.Kardec, ESE: cap.II, item 2).

O governo dos homens, onde o egoísmo e orgulho prevalecem, é transitório, como transitório é o mal que lhe dá origem.

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