João Batista Vaz
O calor da ideia das penas eternas já se teria dissipado, se os crentes recalcitrantes o soubessem irracional, atentando para a justiça das leis morais que nos fiscalizam a conduta.
A crença em castigos do Espírito culpado sob altas temperaturas em sítios circunscritos que, todavia, não o consomem, remonta à mais alta antiguidade, mas desaparecerá à vista da lógica e da Ciência.
A existência de temperaturas infernais nas entranhas da Terra, para onde – dizem – são conduzidos os malfeitores, até que se justifica, ante a certeza do estado ígneo do núcleo planetário, mas, o tempo passa, o entendimento se renova e, com ele, a visão da “realidade” espiritual que se nos mostra.
Revela o Espiritismo que, afora o desconforto em forma de fogo moral, a que se submetem os Espíritos infelizes e profundamente endividados, eles não estão sujeitos a qualquer temperatura física, como não são passíveis de queimar-se.
É verdade que nossas apreciações – ao contrário do que consideram nos Espíritos que, de tão inferiores e materializados, apressam-se até para proteger-se da chuva – não cogitam de situações em que se enquadram os Espíritos de alta hierarquia. Mas, quando, na Terra, nos queixamos do quanto nos incomodam temperaturas superiores a trinta graus Celsius, cumpre-nos lembrar que o nosso Sol, na condição de fonte de luz e energia para todo o seu Sistema, e em cujo núcleo a temperatura é de 15 milhões de graus centígrados, presta-se também a reuniões de Espíritos superiores, representantes do astronomicamente enorme espaço ativo que se lhe subordina (Ver nota à questão 188 do LE).
Terminada a digressão, voltamos ao alvo da nossa apreciação: Diz Kardec (O Livro dos Espíritos, Cap. II, Parte IV), que a Teologia (já à época), reconhecia “que a palavra “fogo” é empregada figuradamente, e deve se entender como um fogo moral.” Demais, na questão 974 do LE, a resposta dos Luminares espirituais afirma tratar-se de doutrina cuja origem está em imagem tomada pela realidade. E é aqui que nos devemos deter, porquanto, aqueles que ainda insistem em pretender sustentar tal crença, sem que consiga superar suas fraquezas comprometedoras do próprio destino espiritual, insistem em admitir como castigos infindáveis o frio intenso, a treva plena, o lago de fogo…, perturbando-se e sofrendo desnecessariamente, senão pela realidade penal que os espera, segundo sua culposa carga consciencial.
Analisemo-nos as aflições, olhemos em nosso redor e veremos o alto custo moral que pagamos por negligenciar as supremas leis. A mesma questão 974 Kardec a desdobra, indagando: Mas esse medo (perturbações e sofrimentos)não pode ter um bom resultado? E ouviu dos Mentores: “Vede, pois, se ele reprime muito, mesmo entre os que a ensinam. Se ensinais coisas que, mais tarde, a razão rejeita, fareis uma impressão que não será nem durável, nem salutar.” E, em seguida, ajunta o Codificador – ressaltando, talvez, a ignorância da humanidade -, que “o homem, não podendo mostrar, pela sua linguagem, a natureza desses sofrimentos, não encontrou comparação mais enérgica que a do fogo, porque, para ele, o fogo é o tipo do mais cruel suplício e o símbolo da ação mais enérgica.”
Agora, avancemos para a questão 1006 do mesmo LE e veremos que o Espírito São Luís nos assegura que a duração dos sofrimentos dos Espíritos só seria eterna, se eterna fosse a duração de sua maldade e se jamais se arrependessem. E ele mesmo arremata: “Mas, Deus não criou seres para que sejam perpetuamente devotados ao mal.”
Purificados, por esforço próprio, ou auxiliados por circunstâncias impositivas, e eis que teremos, todos, sem exceção, alcançado a felicidade efetiva.
Uma vez perfeitos, nem fogo, nem frio, nem escuridão!