O Estudioso do Espiritismo

Texto de João Senna

O estudo do Espiritismo pode ser realizado para diversos fins de acordo com os objetivos de quem o estuda. O objetivo irá determinar o grau de compreensão de toda dinâmica envolvida, não apenas no aprendizado, mas no que diz respeito ao próprio Espiritismo. É que o Espiritismo se comporta como um ser vivo ao se inserir na sociedade e em cada pessoa. 

Muitos percebem o Espiritismo como uma filosofia e compreendem seus conceitos e consequências, mas como o entendem apenas como um saber filosófico entre tantos outros saberes, acabam por se tornarem apenas estudiosos do Espiritismo sem que consigam alcançar sua proposta de transformação profunda do ser. Kardec afirma que o Espiritismo é uma filosofia espiritualista com consequências morais, mas jamais afirmou que essas consequência deveriam permanecer somente no campo da filosofia, tornando-se apenas um objeto de estudo ou comparação entre as diversas propostas moralizadoras.

Kardec define o Espiritismo como a ciência do Espírito. Ele responde às questões fundamentais sobre o ser, a saber: quem somos, de onde viemos, para aonde vamos. Quais as relações entre o mundo material e o espiritual. O Espiritismo fundamenta-se em fatos, na observação, catalogação, classificação dos fenômenos mediúnicos ou ditos fenômenos espíritas. O cientista inglês William Crookes escreveu um livro cujo título é: Fatos Espíritas. Charles Richet, o criador da Metapsíquica, não compartilhava da explicação de Allan Kardec para os fenômenos mediúnicos, pois,  ele os atribuía às forças do inconsciente e ao poder plástico/modelador do inconsciente do denominado médium. Richet, entretanto, declarou que Allan Kardec baseou-se nos fatos para suas afirmações e nunca se afastou dos fatos.

O fato de o Espiritismo ser uma ciência, de forma alguma faz que o que nele acredite oriente sua vida nas propostas espíritas. Há muitos que sabem ser o Espiritismo uma verdade, mas vivem como autênticos materialistas. Kardec os denomina de espíritas experimentadores, pois, vivem à procura de fenômenos e provas já existentes. 

Kardec afirma que o real e verdadeiro sentido da religião é a comunhão com Deus, a reunião  de pessoas em direção a um ideal superior. O Espiritismo é, portanto, uma religião no sentido filosófico. Ele não é uma religião no sentido comum do termo. As pessoas, em geral, não veem na religião senão um conjunto de dogmas, uma hierarquia e isso o Espiritismo não é. Mas, esse não é o real e verdadeiro sentido da religião. Na Revista Espírita, no discurso do Dia dos Mortos, Allan Kardec declara literalmente: “O Espiritismo é uma religião no sentido filosófico e disto nos ufanamos”. Kardec fez essa afirmação três meses antes do seu desencarne. 

No Brasil, o Espiritismo assumiu um aspecto de religião, mas uma religião sem dogmas, rituais e hierarquias. O Espiritismo é praticamente desconhecido nas outras nações. Na França, onde nasceu, foi recusado como ciência e como filosofia. Aos poucos, o Espiritismo cresce em alguns países. Se no Brasil houve um grande desenvolvimento do Espiritismo, tal se deve por ele ter sido aceito em todos os seus aspectos. Há grupos de estudos nas casas espíritas onde se estuda as obras da codificação. Certamente, não são todas as casas que possuem grupos de estudos. A ciência espírita não é desmerecida  no movimento espírita, apenas não cabe aos espíritas fazer ciência espírita se não possuem competência para tal atividade. Podemos estudar os aspectos científicos do Espiritismo nos grupos que possuam elementos aptos para tanto. 

As pessoas procuram as casas espíritas para consolação de seus problemas e esclarecimento sobre  as questões do Espírito. Evidentemente, as casas espíritas são constituídas de pessoas de boa vontade, não filósofos e muito menos cientistas. O Brasil está entre as nações com o pior sistema educacional do planeta  e nada mais natural que não existam muitas pessoas qualificadas para profundidades  filosóficas. Se o Espiritismo tivesse sido aceito na França ou outros países desenvolvidos, talvez tivéssemos um quadro diferente, embora, filósofos não sejam conhecidos por fundarem grupos de auxílio às pessoas que sofrem. 

O aspecto religioso do Espiritismo é o coroamento de sua proposta fundamental que é a moralização do indivíduo.

 A ciência não propõe mudanças comportamentais, ela apenas explica e oferece soluções para alguns problemas. As faculdades de filosofias ou grupos diversos onde os filósofos se reúnem,  nunca tiveram papel moralizador, tendo em vista o fato de os filosofos não se entenderem sobre a existência ou não da verdade. Há inúmeras correntes filosóficas e os filósofos são mais conhecidos por nunca estarem convencidos de alguma coisa. É um pouco frustrante, mas é a triste realidade.

Não é de se estranhar que o Brasil seja o maior país espírita do mundo, aliás, o número de espíritas no Brasil é maior que o de todos os países reunidos. Acreditamos que o dia em que as outras nações aceitarem não apenas as propostas de O Livro dos Espíritos, mas também as contidas no  O Evangelho Segundo o Espiritismo, nesse dia a doutrina espírita poderá florescer no restante do mundo. É indispensável que demos um passo adiante e de simples estudiosos da filosofia e da ciência espírita, passemos a ter uma comunhão de amorosidade com o ensino espírita, com Deus e o próximo, atingindo assim a dimensão religiosa da doutrina espírita.

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