Euripedes B. Carvalho
Cumprindo mais uma trajetória de experiências e aprendizados, vai o ser humano amealhando conquistas e eventuais fracassos e, no palco desses acontecimentos, poderão surgir novas amizades, como também, prováveis inimigos.
Seria de bom alvitre que, com inteligência e bom senso, ele cuidasse, nesta oportunidade de vida, de multiplicar amizades, transformando em amigos, pretensos inimigos, reconciliando-se com os seus adversários. Assim agindo, não só evitaria possíveis agruras na vida presente, como eximir-se-ia de cobranças e perseguições, seja no plano espiritual ou em existências futuras.
Peca pela boa fé quem crê no aforismo “morto o animal, morto o veneno”. Adverte-nos o Cristo: “Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais a caminho…”(Mateus, cap.V,25,26). Até porque a desencarnação não desfaz laços, quer tenham sidos atados pelas singelezas do amor, quer tenham sido gerados pelas chamas do ódio. E o ódio cultivado na vida presente, prolongar-se-á para além das fronteiras da vida material, quando, então, o desejo de vingança de inesperados inimigos ultrapassará os limites da sepultura. Conflitos e desentendimentos prosseguirão na erraticidade e, se alimentados pelo combustível do rancor e da mágoa, poderão se estender por séculos.
É o que mais temos visto em nossas reuniões de desobsessão. São inúmeros os casos em que o espírito ensandecido pelo ódio, quer fazer justiça pelas próprias mãos. Considera-se abandonado pela Justiça Divina (isso quando crê em Deus), e não vê outro caminho senão o da vingança. Obsessores e obsediados, envolvidos num tresloucado círculo vicioso, poderão prolongar esse embate existencial invertendo papeis, uma vez como vítimas, outra como algozes e, assim, sucessivamente. Com isso, o sofrimento se intensifica e a dor se agrava.
A verdade é que a obsessão, nas suas mais diversas manifestações, “é o mal do século”. E, enquanto não se extirpar esse sentimento negativo, arraigado ao coração do homem, o sofrimento o acompanhará indefinidamente. Manoel Philomeno de Miranda, no livro Nos bastidores da obsessão, explica, com clareza, como funciona o ódio nas tramas da obsessão: “O ódio, pela fixação demorada acerca da vindita, cria um condicionamento psíquico que emite ondas em direção segura, envolvendo o ser almejado, que, se não se encontra devidamente amparado nos princípios superiores da vida, capazes de destruir as ondas invasoras, termina por se deixar algemar”.
Só o perdão – manifestação do amor –, nestes casos, poderá interromper essa sequência insana e inconsequente, restabelecendo a paz entre os dissidentes. Ensina-nos, André Luiz, em Nos domínios da mediunidade, que: “O ódio é como o incêndio que tudo consome, mas o amor sabe como apagar o fogo e reconstruir. Segundo a lei, o bem neutraliza o mal, que se transforma, por fim, em servidor do próprio bem.”
Em benefício de nossa tranquilidade, no presente e no futuro, por menor que seja a falta cometida ou sofrida, reconciliemo-nos com o nosso adversário enquanto estamos a caminho com ele, pois, a desencarnação não nos livrará de seu desejo de vingança.
Morto o animal racional, o veneno do ódio se potencializa, e só o soro do perdão ou do entendimento, poderá sanar suas maléficas conseqüências.