João Batista Vaz
É milenar o status transformador da sociedade terrestre, vindo de antes mesmo que Moisés se empenhasse em apascentar suas ovelhas, a custa de palavras duras. Jesus, por sua vez, o manso e pacífico, apressou o entendimento dos seus irmãos menores, despertando-lhes e exemplificando-lhes em matéria de espiritualizade, moralidade, irmandade e amor, e descortinou-lhes a realidade divina, com a qual, na condição de criaturas de Deus, haveriam de harmonizar-se.
Veio a Doutrina dos Espíritos e, sob o clarão do Espírito da Verdade, estendeu aos habitantes do orbe terrestre as revelações e ensinamentos cristãos, melhorando-lhes a percepção da efetiva qualificação que os conduziria eternidade afora. Propôs acudir-lhes na necessidade da consciência de submissão às leis que lhes regem a vida, clarificando-lhes quanto à vida infinita, dentro do contexto de uma máquina universal de precisão absoluta, administrada por uma Vontade misericordiosa, sábia, justa, perfeita, eterna e imutável.
Analisando O Livro dos Espíritos, objeto de nossos estudos, vemos que foi justamente a partir desse entendimento que Kardec propôs aos Instrutores da Grande Luz, com vistas à construção das bases da Doutrina Reveladora, a questão da preocupação dos Espíritos que já se iluminaram, ante a situação daqueles que se lhes estagiam na retaguarda do sofrimento.
Preocupado com que a felicidade dos benfeitores das obras divinas pudesse ser perturbada, resultando-lhes aflições, já que os bons sempre sofrem pelo sofrimento dos seus semelhantes, especialmente daqueles que se lhes vinculam por laços de amor familial e dispostos a assimilar-lhes o auxílio, indagou (questão 976): “A visão dos Espíritos que sofrem não é para os bons uma causa de aflição? Em que se torna sua felicidade, se é perturbada?”, e obteve a seguinte resposta: “Não. Não é uma aflição, posto que sabem que o mal terá um fim. Eles ajudam os outros a progredirem e estendem-lhes a mão. Essa é sua ocupação e um prazer quando têm êxito.”
Desdobrada a mesma questão, nos termos: “Isso se concebe da parte dos Espíritos estranhos ou indiferentes, mas a visão dos pesares e dos sofrimentos daqueles que amaram sobre a Terra, não perturba sua felicidade?” E veio a resposta esclarecedora: “Se não vissem esses sofrimentos, é que vos seriam estranhos depois da morte. Ora, a religião vos diz que as almas vos vêem, mas eles consideram vossas aflições sob um outro ponto de vista, pois, sabem que esses sofrimentos são úteis ao vosso adiantamento, se os suportais com resignação. Eles se afligem, pois, mais com a falta de coragem que vos retarda, que com os sofrimentos em si mesmos, que não são senão passageiros.”
Vê-se que, inobstante o facho de luz voltado, caridosamente, na direção do nosso entendimento, como restou marcadamente convincente na primeira parte destas linhas, o final da resposta dos Luminares espirituais, na focada questão 976 do LE, é enérgica advertência que continua, tempo afora, a nos cobrar alinhamento corajoso com os desígnios divinos, pendência que, dizem os preclaros Instrutores, segue nos atrasando na vereda evolutiva.