Fé inabalável só o é a que pode encarar a razão
em todas as épocas da humanidade
Importante fato a ser considerado é que em pleno século XIX, com todas as limitações materiais inerentes àquela época, Allan Kardec, apoiado pela espiritualidade superior e num trabalho árduo, metódico, acurado, incansável e em curtíssimo espaço de tempo, promoveu profunda reformulação do pensamento religioso de há muito vigente. Constantemente a obra da codificação espírita por ele realizada envia-nos luzes de esclarecimento baseadas na razão e no sentimento de fraternidade.
Exemplo disso encontramos no livro O Céu e o Inferno, onde Kardec, há mais de 150 anos, com seu brilhante pensamento lógico, consistentemente demonstrou a inexistência de penas eternas, abrindo um grandioso horizonte de possibilidades e consolos em nossas vidas.
Mostrou-nos a verdadeira face de Deus: Um pai amoroso e justo, um pai que educa para a eternidade. Não mais aquele juiz que a todos implacavelmente julgava impondo destinos definitivos em decorrência de erros temporários. Demonstrou-nos que, sendo perfeito, Deus é comprometido com nossa constante e progressiva transformação moral, fazendo com que a alma leve consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer que se encontre.
Tais conceitos fazem com que entendamos as desigualdades existentes na Terra. Nossa estreita visão às vezes não nos deixa ver que crianças hoje nascidas em condições opostas têm, ao longo do tempo, as mesmas possibilidades de vida e aprendizado moral e espiritual. Com frequência nos perguntamos: Seria justo e caritativo que dois seres recém criados (como muitos ainda crêem) vivessem suas vidas e determinassem de forma eterna seus destinos partindo de oportunidades tão diferentes?
Tivéssemos apenas uma chance para a fixação da pena que carregaríamos por toda a eternidade, estaria negada a justiça divina.
Mesmo nós, seres ainda profundamente imperfeitos, tentamos tratar nossos filhos com equidade, buscando sempre proporcionar-lhes iguais oportunidades. Poderia Deus, suprema perfeição, ser inferior a pais humanos?
Porém, ao trazer à análise o princípio da reencarnação, a doutrina codificada pelo mestre de Lyon fez com que tudo fizesse sentido e a incoerente crença das penas eternas caisse por terra.
Afinal, esta não é a única vida de cada encarnado. Todos já tiveram outras experiências e agora estão sendo colocados em locais e circunstâncias que necessitam viver face ao que fizeram em vidas passadas. Sem se eximirem de responsabilidades por seus atos, outras tantas encarnações quantas precisarem terão pela frente, com vivências e aprendizados diversos em busca da plena evolução.
Que ninguém se iluda: Como demonstrou nosso Codificador, uma única vida, ainda mais em condições desiguais em comparação a seus semelhantes, jamais seria um critério justo para determinar, para todo o sempre, o destino de alguém. Deus é justiça e nos quer a todos em Seu amor infinito.
Para isso, dá-nos oportunidades variadas de aprendizado. Uns vão mais rapidamente, outros se demoram pelos caminhos, mas tais oportunidades sempre serão renovadas e todos chegaremos à perfeição. Um bom pai – humano ou divino – não abandona nem trata desigualmente seus filhos.
Está aí o aspecto mais importante da grande obra Kardequiana: Demonstrar verdades eternas enquanto consola e preenche nossas vidas com a inabalável fé raciocinada, trazendo-nos serenidade e propósitos de melhoria espiritual.
Ademir Gomes Pinheiro