Dr. Rodolfo Moraes Silva
Especialista em Clínica Médica, área de
atuação em Dor e Cuidados Paliativos
Diante da vida, uma das maiores causas de sofrimento que desnecessariamente acrescentamos a nós mesmos, é o perfeccionismo.
É preciso ter cuidado, pois toda vez que recomeçamos um projeto de reforma íntima e dizemos para nós mesmos “não vou mais errar”, já estamos errando. O simples fato de sermos seres humanos, falíveis e imperfeitos, já faz cair por terra uma tentativa dessas, assim tão repentina e brusca. Nossas quedas causam sofrimento, pois nós nos cobramos demais, acreditando possuir valores que ainda não temos!
Daí a importância em se fazer um processo diário de autoconhecimento. Quando encontramos nossa realidade interior, sem máscaras, com autoamor, ajustamos nossas expectativas de forma correta, pois sabemos o real “tamanho de nossas pernas”. Isso evita a frustração que acompanha os erros do caminho.
Se o Cristo dependesse de nossa perfeição para nos considerar seus seguidores, ele andaria sozinho. Na verdade, seguidor do Cristo é todo aquele que toma contato com suas verdades e se esforça por conquistar a si mesmo, ao longo da jornada da vida. Encontram-se nessa situação espíritos das mais diversas classes evolutivas – dos que erram muito até os que erram pouco – sendo todos, sem distinção, envolvidos por seu amor.
Quando deixamos de exigir de nós mesmos a perfeição, também o fazemos para com os outros. Somos muito eficientes em cobrar os melhores resultados das pessoas que nos cercam, bem como julgar e condenar quando erram. Queremos que sejam perfeitas, especialmente para conosco. Aí, vêm mais frustração e mais sofrimento. A consequência natural do autoconhecimento libertador – com ajustes de expectativas dentro de nós – é o mesmo ajuste para as pessoas que nos cercam, pois passamos a entender que o outro é tão limitado e susceptível a erros quanto nós mesmos, merecendo tolerância e compreensão.
Se por um lado estamos realmente muito distantes da perfeição, ainda caminhando em estágios inferiores da vida, por outro carregamos dentro de nós, já atualmente, algumas conquistas que devem ser valorizadas.
A distância a ser percorrida não deve nos assustar nem servir como desestímulo. Deve fazer parte da tomada de consciência de nossa realidade, servindo de rumo certo a ser seguido. Por outro lado, nossas conquistas atuais devem sim ser valorizadas e devemos dar graças a Deus por sermos o que somos e termos a consciência de que precisamos caminhar sempre em frente. Não foi fácil nem rápido atingirmos esse patamar evolutivo.
Mais importante que a vitória, sem dúvida nenhuma, é a caminhada. Mais importante que as quedas, tão naturais no nosso estágio evolutivo, é a forma como nos reerguemos. Se é certo que ainda não atingimos a perfeição suficiente para não errarmos mais, também deve ser certo que já atingimos a maturidade suficiente para reagirmos melhor, com caridade e amor para conosco mesmo, após cada queda ao longo do caminho.
Cada dia um dia, cada erro, um aprendizado. Calma e paciência. Caridade para consigo mesmo. Força para recomeçar.